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segunda-feira, 7 de agosto de 2023

CAMÕES por Machado de Assis

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Nese soneto sobre Camões alude Machado de Assis naufrágio do poeta na foz do Mekong; por essa ocasião salvou-se ela a nado, levando em uma mão o manuscrito dos Lusíadas. Como se sabe, o poema canta a história de Portugal, entremeada na narração da viagem de Vasco da Gama. 

Quando, torcendo a chave misteriosa

que os cancelos  fechava do Oriente, 

O Gama abriu a nova terra ardente

Aos olhos da campanha valorosa.

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Talvez uma visão resplandescente 

Lhe mostrou no futuro a sonorosa

Tuba, que cantaria a ação famosa 

Aos ouvidos da própria e estranha gente.

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E disse: "Se já n'outra antiga idade,

Troia bastou aos homens, ora quero 

Mostrar que é mais humana a humanidade. 

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Pois não serás herói de um canto fero, 

Mas vencerás o tempo e a imensidade

Na voz de outro moderno e branco Homero, 

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Um dia, junto à foz de brando e amigo 

Rio de estranhas gentes habitado, 

Pelos mares aspérrimos levado, 

Salvaste o livro que viveu contigo; 

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E esse que foi às ondas arrancado, 

Já livre agora do mortal perigo, 

Serve de arca imortal, de eterno abrigo, 

Não só a i, mas ao teu berço amado.

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Assim, um homem só, naquele dia, 

Naquele escasso ponto do universo, 

Língua, história, nação, armas, poesia, 

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Salva das frias mãos do tempo adverso. 

E tudo aquilo agora o desafia, 

E tão sublime preço cabe em verso,

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