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quinta-feira, 4 de setembro de 2014

UM RESUMO DOS LUSÍADAS - Por Nicéas Romeo Zanchett

NOTA EXPLICATIVA
                A educação é um projeto que tem a pretensão de suavizar os costumes, criar hábitos de abnegação, desenvolver e favorecer o equilíbrio do homem na sua integridade.  
                Quando escrevi um resumo descritivo da "Divina Comédia" de Dante Alighieri tinha o mesmo objetivo que agora me move. As duas obras são fantásticas, mas poucos conseguem o privilégio de conhecê-las.  São longas e nem todos, mesmo com sede de saber, conseguem lê-las integralmente. Muitos não dispõe de tempo e outros de recursos financeiros que possibilitem a aquisição de obras tão importantes. 
                O mundo atual é dominado pela internet e muitos leitores, principalmente os jovens,  tem dificuldades para lidar com os velhos livros, onde a sabedoria é levada a sério. Infelizmente muitos autores da atualidade estão mais preocupado com os lucros do que com a qualidade do que escrevem. O preço de um livro é sempre proporcional à fama de seu autor e, dessa forma, fica fora a grande maioria dos interessados. Por outro lado, muitas obras são apenas midiáticas e sem nenhum valor literário que justifique sua fama. Isso se reflete na própria Academia de Letras, onde o poder e a fama podem tornar um escritor medíocre num "imortal". 
                 Há pessoas que não tem a oportunidade de um estudo meticuloso e sistemático; que não podem, por razões econômicas ou outras, dedicar-se a seguir as universidades dos conhecimentos, das mais diversas disciplinas. Meu propósito é, dentro das minhas limitações, suprir as deficiências e construir um mínimo de saber. Porque acredito que só a sabedoria poderá salvar a nossa humanidade.
               O que vai ler a seguir é um modesto resumo descritivo da grande obra prima de Camões, "Os Lusíadas". O poema original divide-se em dez cantos, cada um formado por um número variável de estrofes de oito versos cada (oitavas), sendo que cada verso é composto por dez silabas. 
                Evidentemente não há nenhuma pretensão de imitar e muito menos tentar aproximação com a grandiosidade da obra prima do gênio Camões. O que busco é instruir sem discussões teóricas, inadequadas e fastiosas, os espíritos juvenis e também os que querem, mas não dispõe de tempo para aprofundar-se na verdadeira literatura.  Aqui falo, principalmente, para aqueles que conservam a curiosidade vivaz e fresca, que é o verdadeiro espírito juvenil capaz de levar à sabedoria. 
Nicéas Romeo Zanchett
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OS LUSÍADAS 
De Camões 
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Canto I
                Camões integrava os tripulantes da frota comandada por Vasco da Gama e, em caminhos desconhecidos, ia por mar a fora  em busca da Índia. Muitas aventuras grandes e terríveis com provas de coragem sobre-humana, que muitos não suportaram. 
                 Reuniram-se então os deuses do Olimpo; e Júpiter, diante de tanto arrojo, bravura e constância dos portugueses, resolveu protegê-los e levá-los à salvos até o final de sua jornada. Porém Baco -deus da mitologia-, por haver já conquistado o Oriente e receoso de que a fama dos portugueses ali assombreasse a sua , opôs-se aos desígnios de Júpiter. Vênus, porém, defendeu os ousados navegantes e Mercúrio secundou-a. Terminada a reunião dos deuses, Júpiter ficou com a incumbência de auxiliar e proteger os navegantes portugueses.
                  Enquanto isso se passava no Olimpo, a frota ia chegando à ilha de Moçambique, onde os portugueses foram bem recebidos pelos negros naturais daquela terra. Mas depois que souberam que eram cristãos e viram as riquezas e as armas que levavam, aqueles infiéis abrasaram-se  de cobiça, inveja e ódio e, fingindo-se amigos, prepararam-lhes uma traição; mas foram vencidos e desbaratados. Fingindo-se então arrependidos, seguiram o conselho de Baco que, sob a figura de um velho, aconselhou o rei infiel a dar aos cristãos um piloto astuto que, prometendo ensinar-lhes o caminho da Índia, os conduzisse à perfeição. 
                   Assim, confiantes em quem tão covardemente os enganava, partiram Vasco da Gama e os seus . Mas Vênus, que velava por eles, levantou os ventos e as águas de modo que impossível lhes foi aportar a Quíloa, uma das ilhas inimigas, onde o piloto traidor os queria levar para seu mal, pois eram habitadas por mouros cruéis. 
Canto II
                   Chegando em frente de Mombaça, o rei deste país mandou convidar os portugueses a entrar no porto; Vasco da gama enviou à terra dois condenados que levava consigo para tais fins perigosos, com o objetivo de, através deles, assegurar-se das intenções daquela gente. Foram estes mensageiros  enganados pela falsidade da população, que se mostrava amiga escondendo a traição que projetava, e também por Baco, que tomara o aspecto de um sacerdote cristão. 
                    Confiando nestas aparências, preparava-se Vasco da Gama para entrar no porto com a sua frota, quando Vênus, vendo o perigo imenso que o ameaçava, se apresentou chorando na presença de Júpiter, queixando-se de que este deus abandonara os seus protegidos. Júpiter acalmou Vênus prometendo-lhe auxílio e descrevendo-lhe, para consolá-la, as grandes glórias e triunfos que esperavam os portugueses, cujo nome imortal faria empalidecer a fama de todos os heróis da antiguidade. Vênus, satisfeita, volta para o mar, junta em torno de si as nereidas -ninfas do mar- encrespando as ondas, impede a frota de entrar no porto traiçoeiro e impele-a brandamente para longe daquele lugar. 
                   Lutando com as ondas rebeldes, a marinhagem faz grande algazarra. Os infiéis que tinha vindo à bordo para os atrair a Mombaça, assim como o pérfido piloto, tendo as consciências inquietas, julgam a sua vileza descoberta e percebem que tal alarido é de cólera contra eles; Precipitam-se por isso para fora do navio e fogem a nado; e Vasco da Gama percebe assim a sua traição. 
                   Em sonhos aparece-lhe Marte, que o aconselha a aportar a Melinde, onde o rei e o povo lhe serão favoráveis; antes estivera Marte nessa terra, onde espalhara a grande fama do povo português e anuncia a próxima chegada da frota. 
                   Seguindo os conselhos do deus da guerra, Vasco da Gama segue para Melinde, onde os navegadores portugueses são recebidos com sincera admiração e alegria e onde o rei lhes oferece agasalho, mantimentos, e tudo de que necessitavam.
                  Fazem-se nessa noite grandes festejos, fogos de artifício e músicas tanto a bordo com em terra. No dia seguinte o rei de Melinde vai visitar a frota, que o acolhe com demonstrações de júbilo e muito esplendor. O rei pela a Vasco da Gama que lhe conte a história do seu país. 
 Canto  III
                  Todos estavam escutando o que o grande Vasco da Gama ia contar; ele recolheu-se pensativamente por um momento, e em seguida começou a descrever a Europa e os diferentes povos que nela habitavam.  Ele falou da Espanha gloriosa e forte, a que chamou de a cabeça da Europa, cuja fronte era Portugal: " a ditosa pátria minha amada", onde a terra se acaba e o mar começa. Neste ponto, conta como Henrique de Borgonha veio ajudar D. Afonso de Castela a combater os mouros e dele recebeu a filha  Tereza em casamento, e terras do norte de Portugal. 
                   Em seguida passa a relatar o governo de seu filho D. Afonso Henriques, e fala das lutas deste príncipe contra sua mãe, o cerco de Guimarães com a desenvolvida narração do sacrifício do aio de D. Afonso, Egas Muniz, que ofereceu a sua vida e a de sua mulher e filhos ao rei de leão, em troca da promessa feita que não pode cumprir, de que D. Afonso Henriques se lhe submeteria; a batalha de ourique, onde o príncipe foi aclamado rei pelos soldados depois de ter a visão de Cristo crucificado, tendo nessa ocasião pintado no seu escudo as armas que ainda hoje figuram na bandeira de Portugal. 
                   Passa a contar as gloriosas conquistas deste rei aos mouros, e narra vários acontecimentos do reinado de D. Sancho I, de D. Sancho II, de D. Afonso III, de D. Diniz; e aqui fala da obra deste rei que completa as vitoriosas conquistas dos sus antecessores, construindo cidades e fortalezas, difundindo a instrução e protegendo as artes  no seu reino pacificado e próspero. 
                   Conta então o pedido que a rainha de Castela fez a seu pai, D. Afonso IV de Portugal, para ir auxiliar seu marido contra os mouros, cujo exército enorme foi com esse auxílio desbaratado. E narra num episódio admirável a triste história de D. Ignez de castro que casara secretamente com o filho do rei e foi assassinada por motivos políticos. 
                    Este filho de D. Afonso IV, foi depois o rei D. Pedro I, que vingou a morte de Ignez, foi juiz  severo e duro, e teve por sucessor D. Fernando, cujo caráter brando ia colocando o país em perigo, pois não o havia preparado para se defender dos castelhanos. 
                    Com a morte de D. Fernando, continua Vasco a contar, sua mulher D. Leonor com o conde Andeiro pretendiam governar o reino; e a rainha queria que sua filha D. Beatriz, casada com o rei de Castela, ficasse com o trono de Portugal. Mas o povo não aceitou-a como rainha e um filho de D. Pedro I, D. João, mestre de Aviz, matou o Andeiro, fez fugir D. Leonor, e foi aclamado rei. 
                    Porém, D. Leonor, tendo consigo grande parte da nobreza de Portugal, chamou em seu auxílio os espanhóis, que vieram de todas as províncias para combater os portugueses e deles fazerem rainha a mulher do rei. 
                  Foi então que surgiu o admirável cavalheiro português D. Nuno Alvares Pereira, que animando o povo português e mostrando um extraordinário valor, se colocou ao lado de D. João e contra os castelhanos, como condestável do reino, levou as tropas portuguesas à célebre Batalha de Aljubarrota, em que o grande exército espanhol ficou desbaratado, deixando o campo juncado de cadáveres.   Não contente com tamanha vitória, D. Nuno Alvares perseguiu os inimigos, combatendo contra eles no Alentejo e até à Andaluzia, levando-os sempre vencidos com valor espantoso. 
                   Terminou por fim esta guerra, tão gloriosa para os portugueses, com o casamento dos dois reis contendores com duas ilustres princesas inglesas. 


Canto IV 
                   Porém D. João não se contenta com a vitória alcançada e logo começa outra jornada. Ele foi o primeiro rei português que saiu da pátria em busca da glória além-mar, onde com seu valente exército conquistou Ceuta. 
                   Por fim, ao morrer, deixou uma ilustre descendência nos príncipes, seus filhos, do quais o mais velho, D. Duarte, subiu ao trono. O seu reinado foi infeliz. Teve a tristeza de ver seu irmão D. Fernando, o Santo, cativo dos sarracenos e  que com tal cativeiro conseguiu resgatar o exército português, que estava prestes a se perder.  Não havia na história mais belo exemplo de abnegação e de sacrifício pela seu país. 
                  A D. Duarte, sucede seu filho D. Afonso V que na África conquistou Alcacer, Tanger e Arzila. Cheio de ambição, quis estender suas façanhas à Espanha, onde em batalha memorável e de fim duvidoso, cometeu altos feitos, vindo em seu auxílio seu filho D. João que, por sua morte, foi rei de Portugal, segundo do seu nome. 
                  Foi este o primeiro rei português  que tentou descobrir a tão falada Índia, e a ela mandou dois emissários por terra, à procura do caminho desejado; os quis, tendo visto muitos países e gentes com costumes desconhecidos, avançaram até onde puderam e por lá morreram longe da pátria. 
                  A D. João II sucedeu D. Manuel, que fez continuar a jornada do seu antecessor. Camões, usando aqui de expediente clássico nas epopeias, faz dizer a Vasco da gama que D. Manuel teve um sonho em que lhe apareceram em figura de dois velhos os rios Ganges e Indo, os quis lhe disseram quanta glória e fortuna esperava-os no Oriente. 
                  Foi então que Vasco da Gama continua e, dirigindo-se ao rei de Melinde, que este soberano me escolheu para comandar a busca no descobrimento do caminho para a Índia por mar. Aprontaram-se os navios e partimos. À nossa partida acorreu todo o povo de Lisboa, juntando-se na praia  do Restelo; e um velho, com voz forte que das embarcações ouvíamos, censurava asperamente a loucura de irmos buscar glorias e riquezas tão longe, em vez de nos aproveitarmos do que tínhamos na pátria e perto dela. 


Canto V 
                  Vasco da Gama continua sua narrativa, descreve a partida da frota e a sua viagem passando pela ilha da madeira, costa da Barbaria e terras dos Azenegues, Senegal, Cabo Verde, ilha de S. Tiago, Negrícia e outras, abastecendo-se e tomando água em vários portos, mas encontrando apenas brutos e negros selvagens, que de uma vez por pouco não matavam um dos tripulantes, o ousado Veloso, que com eles se aventurara para o interior. 
                   Descreve, com uma precisão admirável, elogiada pelo ilustre naturalista Humboldt, o fenômeno da tromba marítima, que grande assombro causou aos navegantes. 
                   De súbito, eis que se forma uma negra nuvem de aspecto horrível e o mar se encapela e surge um vulto gigantesco e horrendo de forma humana e gesto ameaçador. É o pavoroso Adamastor, que por castigo viu-se transformado em Júpiter no cabo que termina a África. Com voz cavernosa, que parece sair do profundo mar, presagia aos navegantes grandes trabalhos e sofrimentos pela sua ousadia sobre-humana de o terem descoberto. Este episódio do Adamastor é uma das mais grandiosas criações de Camões. Depois vasco da Gama vai contando a continuação da viagem depois de ter dobrado o terrível promontório, e narra as privações, tempestades e desesperanças sem fim por que passam, fazendo notar que só portugueses seriam capazes de sofrer tanto com tamanha constância e obediência, sem uma revolta e sempre firmes na sua vontade e no seu dever. 
                   Acaba, em fim, a narrativa de vasco da Gama. O rei de Melinde, assim como os seus súditos, estão cheios de admiração por tais heróis, e comentam as diferentes partes da narrativa. 

Canto VI 
                    Depois de muito festejados pelos melindanos, lá partem de novo na sua constante demanda em busca da Índia, não sem saudades daquela boa gente que os acompanha com promessas de eterna amizade. 
                   O tempo estava bonançoso e o vento favorável, e a frota avançava segura, desta vez nas mãos do piloto de Melinde  que não enganava os portugueses e os levaria ao porto desejado. 
                   Mas Baco, ao ver os ousados navegantes tão perto, emfim, do termo vitorioso do seu trabalhoso empreendimento, acende-se todo em furor, e descendo ao fundo do mar, à esplêndida morada d Netuno, ai faz suas queixas perante os deses  do oceano, pedindo-lhes que castigue os atrevidos humanos que,sem respeito por eles, se aventuraram sobre as águas e jornadas que em breve tornarão os homens deses e os deses homens. 
                   Furioso, Netuno dá as suas ordens, e os ventos desencadeados com cega raiva e impulso poderoso atiram-se contra a frota. 
                   Os marinheiros, descuidados, enchiam o tempo de vigia contando um deles aos outros a cavalheiresca e animada história dos Doze da Inglaterra. Era assim a história: 
                   Armou-se na corte inglesa uma discussão entre damas e cavalheiros, sustentando estes que elas não eram dignas de honras e fama, e que manteriam o seu dizer pelas armas a quem afirmasse o contrário. 
                   Mandaram pedir as a doze cavalheiros portugueses que viessem defendê-las, o que eles logo fizeram, vindo entre eles o esforçado Magriço. Deu-se o combate, onde foram vencedores, com grande glória, os portugueses, que por tal feito foram muito festejados  na corte inglesa. 
                   Esta narrativa é interrompida pela chegada dos ventos furiosos. Desencadeia-se tremendo temporal, estando a frota em risco de se perder, quando Vênus, vendo os seus protegidos portugueses em tamanho perigo, manda as ninfas em seu auxílio, as quais convencem os ventos a abrandar a fúria, e a tempestade amaina. 
                   Os marinheiros descobrem então terra, e o piloto diz que é Calicut; emfim a Índia! Vasco da Gama cai de joelhos, dando graças a Deus. 
                   Já tinham os portugueses chegado à terra tão desejada.
                   Povo tão pequeno e valoroso que arrisca a vida em tormentos e combates mais que humanos para dilatar a fé verdadeira pelo mundo desconhecido! Que os alemães, os ingleses, os franceses e os italianos se envergonhem ao contemplá-los, eles que não souberam guardar a Terra Santa, que foram culpados de cismas e que se entregam a guerrear entre si, em vez de pelejarem juntos  contra a gentilidade. 
                   Logo que os navegantes chegaram à terra, muitas embarcações vieram ao seu encontro, e um embaixador foi mandado por Vasco da gama ao rei de Calicut, a quem chamavam Samorim. 
                   O embaixador encontrou-se na cidade com um mouro da Berberia, chamado Monçaide, que um acaso da sorte trouxera a tão longes terras e que falava espanhol. Este mouro, conversando com o português, que levou para sua casa e obsequiou, contou-lhe que terra era aquela do Malabar, as suas riquezas, as suas forças e os seus costumes. 
                   No dia seguinte Gama desembarcou, e, com grande aparato e acompanhamento, depois de ouvir a bordo Moçaide, encaminho-se para o palácio, onde o Samorim o recebeu no meio do seu enorme luxo e riqueza. Disse-lhe então o Gama de onde vinha e que rei poderoso e magnânimo era o seu, em nome do qual lhe propunha amizade e troca de mercadorias. 
                   O Samorim respondeu com muita cortesia e ficou de responder à embaixada depois de ouvir os seus conselheiros e de se informar a respeito dos portugueses. 
                  Foi depois a Catual (espécie de regedor daquela terra) visitar a frota e muito se maravilhou do seu esplendor e sobretudo das bandeiras de seda que lá havia no navio de Paulo da gama, onde estavam pintados os feitos dos heróis portugueses. 
                  Aqui pede camões às ninfas do Tejo que o inspirem, pois só quer cantar aqueles que pelas suas ações o mereçam e não outros que hipocritamente perseguem a fama sem serem dignos dela e que não se envergonham de oprimir os fracos, de praticar injustiças, de enriquecer à custa do suor alheio e de negarem merecimento ao trabalho dos outros, de que eles não são capazes.

Canto  VIII 
                 Então explica Paulo da Gama ao Catual as figuras pintadas nas bandeiras, e assim lhe vai contando façanhas de heróis portugueses, tais como Egas Moniz, D. Fuas Roupinho, Mem Moniz, Giraldo Sem-pavor, Martim Lopes, D.Mateus, (bispo de Lisboa), D. Paio Correia, Gonçalo Ribeiro, D. Nuno Alvares Pereira, Pero Rodrigues, Ruy Pereira, os grande infantes D. Pedro e D. Henrique, e muitos outros, cuja fama é imortal. 
                  Acabando-se o dia, recolheu o Catual à terra com a sua gente. Nessa noite Baco, que não descansava no seu desejo de prejudicar os portugueses, apareceu em sonhos ao Samorim, avisando-o de que aqueles navegantes seriam a ruína da sua terra. Mandou o Samorim consultar os augures que, subornados com dinheiro e presente dos Catuais, confirmaram o dizer de Baco. 
                   Por isso o Samorim disse a Vasco da Gama que duvidava de suas palavras, e convidou-o a dizer toda a verdade. Longamente, e com acertadas e nobres razões respondeu este grande capitão. E o Samorim o acreditou e o mandou recolher a seus navios. Mas os Catuais, cobiçosos impediram-no de embarcar, e só em tal consentiram a troco de várias mercadorias que da frota lhes mandaram para resgatar Vasco da Gama que com grande prudência e acerto se envolveu nessa aventura. 
                  A quantas coisas vergonhosas o dinheiro obriga! Às escondidas do Samorim, os Catuais procederam deste modo com o objetivo de apoderar-se  das riquezas da frota que tanto cobiçavam.  E, como eles, através dos tempos, quantos homens desonraram a sua reputação por amor ao vil metal. 


Canto IX 
                  Tinham ficado em terra dois portugueses que lá tinham ido com tecidos para vender, o que não conseguiam, porque os catuais não os deixavam, e quando receberam ordem de se retirar para bordo, logo foram presos em terra, porque aquela gente traiçoeira não tinha outro pensamento que não fosse demorar a saída da frota dos portugueses  até que chegassem as grandes naus da Meca que todos os anos por aquele tempo ali vinham comercializar.  Esperavam que essas naus destroçassem os barcos portugueses. 
                 Mas de tudo isto o fiel Monçaide avisou Vasco da Gama, que logo deu ordem para se preparar a partida, mandando recado para terra que do seu navio não sairia um só dos mercadores que lá tinham ido vender os seus tecidos, enquanto os portugueses  não fossem restituídos. Esta ameaça deu resultado. Logo os dois portugueses, com todas as suas peças de tecido, voltaram para bordo e do mesmo modo os mercadores foram mandados em paz para Calicut. 
                  A frota pode então levantar âncora e retirar-se. Iam todos contentes, pois tinham conseguido o que desejavam que era descobrir as Índias; voltavam para o reino com certas amostras, como alguns malabares que haviam tomado à força, pimenta, nós-moscada, cravo e canela. 
                  Foi então que Vênus, protetora dos portugueses, determinou que tivessem recompensa por tantos trabalhos e sofrimento; e para isso lhes põe no caminho uma ilha encantada, onde ninfas os esperavam entre frondosos e frescos arvoredos, relvas macias, flores, frutos  delicados e murmurantes regatos. Ali aportaram e foram recebidos pelas belas ninfas com grandes festejos e banquetes que, dessa forma, se sentiram bem recompensados de todas as agruras  sofridas. Este episódio, denominado de "Ilha dos Amores", é um dos mais deliciosos e amáveis de todo o poema de Camões. 
                 A mais qualificada  das ninfas, a deusa Thetis, levou Vasco da Gama  ao seu palácio de cristal  e ouro que ficava no alto de um monte, dizendo que de lá lhe mostraria o mundo inteiro. 
                 Esta Ilha simboliza a gloria  que espera os verdadeiros heróis no fim de suas grandes jornadas. Não a alcançarão aqueles que se vendem  por dinheiro e que se entregam à moleza e aos vícios, mas sim aqueles que, desprezando os perigos, seguem a linha reta do dever e da honra. 


Canto X
                 Com um grandioso banquete no palácio maravilhoso de Thetis, festejam as ninfas  os navegadores portugueses. 
                 Uma delas começa entoando um canto divino, que  é uma profecia dos feitos dos heróis lusitanos, conquistando as cidades soberbas e riquíssimas da Índia. 
                  Depois desse banquete, Thetis leva Vasco da gama  ao alto de um monte, de onde lhe mostra  o mundo inteiro e lhe descreve com todas as suas partes ainda ignoradas. 
                  Despede-se por fim a deusa dos navegadores, que embarcam de novo, não sem antes ser toda a frota abastecida com tudo oque era necessário para a sua longa viagem de regresso. 
                  Sem encontrarem temporais, eles chegam finalmente à pátria tão desejada e se apresentam ao rei, prestando contas da sua arriscada aventura marítima. 
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Nicéas Romeo Zanchett  

 ANTERO DE QUENTAL SOBRE CAMÕES 
                O verdadeiro tipo português do século XVI, como se revela nos Lusíadas, não é, com efeito, uma mera invenção do gênio de camões; é uma genuína criação nacional, um ideal do sentimento coletivo, que se foi gradualmente formando e depurando, até encontrar no grande poeta quem lhe desse uma expressão definitiva. É por isso mesmo que ele domina, de toda a sua altura, o pensamento e a obra de camões.  Antero de Quental. 

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